Episódio 1 (16): Conversões

Cena 1 (com Giovana e Bianca)

Giovana manteve sua paixão platônica por Júlio escondida por vários meses. Desde a "conversa sobre a vida blasè", haviam se passado quatro meses, e ela não conseguia tirá-lo da cabeça. Por mais chato, arrogante, pretensioso e anti-social que ele fosse, ela se encantou com ele. Ela, no entanto, sabia ser discreta, e nem suas amigas mais íntimas ficaram sabendo - todas pensavam que ela já o tinha esquecido.
Ela tentou das mais diversas maneiras canalizar essa energia para outra coisa. Leu diversos livros, seguiu dicas musicais de Júlio (ironias, ironias), tentou o sedentarismo, nada deu certo. Até que, em uma sexta-feira de julho, no MSN, em uma conversa com Bianca, ela achou uma nova maneira de fazê-lo.
- Bia, eu preciso de um rótulo, de uma tribo?
- Mas por quê, Gio? Você sempre foi tão independente, livre de estereótipos... o que te leva a querer ser uma normalzinha?
- Ah, sei lá... queria saber como é, entender o porquê de tanta gente se sentir necessitada a seguir um dogma, um estilo.
- Bem, é por sua conta e risco. Qual tribo você pretende aderir?
- Tem que ser uma bem intensa... emo, não, é superficial. Hippie também não, aquelas roupas são ridículas... Muito menos metaleira, não sou mente fechada... Hum, tive uma idéia!
- Qual?
- Ah, você vai ver... amanhã tem show na Shadowplay. Quero ver você me reconhecer... Será uma surpresa, hehe.
- Agora quer ser misteriosa, hein? Beleza, estou curiosa. Até amanhã.
Na manhã seguinte, havia algo de negro no guarda-roupa de Giovana...

Cena 2 (com Giovana, Edgar, Sérgio, Bianca e Carla)
- As bandas de hoje estão um porre - só tem hardcore, trash metal ou pop punk. Argh.
- Falando em porre, Carla, eu vou tomar uns para justamente ignorar esse tanto de banda ruim.
- Ó, como os bêbados são sábios - disse Sérgio - O álcool soluciona tudo.
- Hehehe... ei, Bia, sabe aquela garota com cabelo solto, maquiagem preta nos olhos, coturnos, roupas sombrias e tudo mais ?... (aponta para ela) Ela não te soa familiar?
- É mesmo, Ed... hum, aqueles olhos cor-de-mel, jeito de andar peculiar e pernas enormes não me são estranhos...
- Putz, é a Giovana!!!
- Caramba!
- Gio - disse Carla, estupefada - o q-que a-aconteceu c-com... v-você?
- Ah, sim, resolvi ser adepta da tribo gótica!
- Hahahahahahahahaha... que legal, você veio fantasiada! - disse Sérgio.
- Não, não. Serei gótica daqui pra frente.
- Sério? Você tá brincando... sempre te achei uma garota tão livre de rótulos e clichês. Pra quê isso?
- Curiosidade e... outras razões.
- E quais seriam elas?
- Não direi, é particular... mas já vou adiantando que agora eu terei que fingir que sou melancólica, depressiva e triste, ok?
- Beleza. Se o Júlio estivesse aqui, ele te indicaria Joy Division, The Cure, Elliott Smith, Radiohead, Muse, Slowdive, entre outras... ele sempre disse que são as bandas que ele mais ouve quando não está bem. Ai, ai, ele e suas pseudo-culturalidades...
- Ué, ele não veio hoje?
- Não - respondeu Edgar - O Júlio disse que precisava ficar sozinho hoje.
- Eu e a Carla - disse Sérgio - chamamos isso de "Isolation Days"... hehe.
- Poxa, precisava falar com ele hoje... mas deixa pra lá. Depois eu volto para conversar com vocês. Agora vou fazer uma social com a galerinha gótica... a propósito, Bia, amanhã vamos fazer comprar. Preciso comprar mais acessórios góticos. Só o coturno, as roupas escuras e a maquiagem não adiantam.
- Ok, garota. Até mais, e boa depressão para você! Hahahahaha...
- Ê, Giovana, você não mudaria assim por acaso... desconfio que o coração dela a esteja influenciando a agir assim - disse Carla.
- Foda-se! Vamos beber até cair! Nós quatro não temos falsos moralismos com álcool, hoje é dia de afogar as mágoas dos amigos estranhos e bandas ruins!
- Falou e disse, Ed! Hehe...