15 janeiro 2006

Episódio 8 - Dois lados

Cena 1 (com Sérgio e Carla)

- E então, cara, como foi a festa de aniversário da Mariana? Não pude ir porque precisei ir ao supermercado fazer as compras do mês com meus pais. Maldito capitalismo, aqueles preços estão exorbitantes! É a exploração do homem pelo homem!
- Bem, o que eu posso dizer! A festa foi maravilhosa! Encontrei vários amigos lá. Bati altos papos com eles, sobre tudo: como vai a vida, música, cinema, televisão... O Edgar, como sempre, exagerou na bebida, mas contou ótimas piadas quando ébrio. A Bianca estava com um vestido lindo, foi o destaque entre as garotas. Também conversei com a Giovana. Como sempre, parecemos dois intelectuais de botequim, debatendo Nietzsche e Freud. =D Mas foi isso. No geral, gostei muito. I love my brothers on the Saturday night!
- Que ótimo... e o Júlio, ele foi?
- Não. Disse que ia com a família no aniversário de um tio dele...
- Hum, vou teclar com ele e perguntar se a noite de sábado dele também foi boa. Espero que sim. Até mais.

Cena 2 (com Carla e Júlio)

Júlio estava quase desligando o PC, quando foi "bipado" no Messenger por Carla.
- A noite foi boa, Júlio?
- Pra ser sincero, péssima. Mais um dia para ser anti-social. Como eu já esperava outra festa patética, como todas as da minha família, tratei de levar meu discman e 2 CDs. Nas primeiras horas da festa, ouvi o do Joy Division, em que eu compilei o Closer e os singles de 1980. Sentei no sofá, tomei vários copos de Coca Cola e fiquei ouvindo, sem prestar muita atenção, quem estivesse disposto a falar comigo - primeiro, meu irmão caçula, depois uma prima minha que está fazendo Direito. Mas nem isso acabou com a minha tristeza. Eu me sentia um deslocado no meio daquelas pessoas.
- Por quê?
- Deve ser porque elas parecem tão... normais, felizes. Conversam sobre suas famílias, comentam a novela e o Big Brother, sempre bem humoradas, mas bebendo e rindo como porcos. Aliás, não comi nada. Estou com medo de pegar uma gastrite ou coisa pior, de tanta Coca que eu bebo. Quando acabou o CD do Joy, coloquei o do My Bloody Valentine. Shoegaze é perfeito para essas horas solitárias. Engraçado, as pessoas acham que eu faço de tudo para me isolar dos outros. Mas eu vejo isso como algo natural, que com o tempo eu comecei a adquirir esse comportamento. Sei lá, às vezes eu me sinto como um estranho no ninho, sabe?
A conversa durou mais algum tempo, até Júlio ficar com sono e decidir dormir. Naquela noite escura, estava ele, em sua cama, sozinho, olhando a lua pela janela. E pensando na vida.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Pensar na vida... Pensar no futuro, no passado, e nunca no presente, é o q mais faço, e ainda chamo de "viver"

28/2/06 22:41  

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