26 janeiro 2006

Episódio 13 - Fracos, demasiado fracos

Baseado e adaptado do post de 26/01 no blog Racio Símio

Cena 1 (com Júlio e Edgar)

Forçados por seus pais, que são espíritas, Júlio e Edgar tiveram que ir a um centro espírita ontem. Após assistirem à aula, os dois se reuniram e escreveram juntos todas as suas considerações. E depois leram elas para seus amigos. Júlio leu cinco delas (as ímpares) e Ed leu as 5 pares.

- Ir lá superou minhas expectativas. Afinal, ninguém me encheu o saco por eu ter passado a aula inteira lendo ou escrevendo.
- Foi uma espécie de pesquisa de campo, para analisar o funcionamento do cristianismo.
- Ler Nietzsche num centro espírita é edificante. Resolvi ler o capítulo do Para Além do Bem e do Mal em que ele solta um punhado de aforismos e máximas. A cada dia eu me fascino cada vez mais com a obra dele, é como se eu encontrasse um escritor que pensasse como eu. Sou ateu desde a 7ª série, quando me indignei com a hipocrisia do meu professor cristão e socialista e vi inúmeros absurdos que ocorreram na história da humanidade.
- Nietzsche é genial, mas não é perfeito. Detesto quando ele dá seus surtos de machismo, e começa a falar mal das mulheres. Mas eu o compreendo: assim como eu, ele faz isso só para disfarçar. Usa o discurso de “amor é para os fracos” para esconder que já se apaixonou alguma vez na vida.
- O espiritismo é menos imbecil e mais liberal que o catolicismo e as seitas evangélicas, mas notei um grave defeito nele. É contraditório – apesar de defender liberdade religiosa, o pessoal passou quase a aula inteira falando mal das outras religiões. Que eles fossem pelo menos sinceros, tipo, “olha, eu vou esculhambar eles, admito desde já”, em vez de se fingirem de tolerantes.
- Ainda assim, pelo menos eles aceitam melhor a opinião dos ateus e livres pensadores. E isso é um sinal de evolução.
- Ao contrário deles, os católicos e evangélicos são as religiões dos fracos. Pelo simples fato de você se tornar um seguidor dessas duas, você assina um atestado de inferioridade. Motivos? Aceita qualquer verdade absoluta que for dita para você; será guiado por um líder demagogo e populista no caso dos protestantes, ou por um líder autoritário e fascista, no caso dos católicos; perderá a sua liberdade em nome do tal do Céu; descobrirá que o cristianismo é mentiroso ao pregar o livre-arbítrio, pois ele é justamente o que mais o condena a cada momento, talhando o pensamento de cada um dos seus ‘cordeiros’; ignora que a Bíblia é um livro parcial a quem o escreveu e recheado de metáforas, e segue-a ao pé da letra; são ideologias autoritárias, cheias de axiomas e um maniqueísmo ferrenho; quando se é católico / evangélico, você sacrifica a sua felicidade e sua auto-estima, e valoriza a tristeza e a humildade (ou seja, para eles é preferível deixar o outro ser feliz do que se preocupar com si mesmo – isso é DESUMANO, uma afronta ao individualismo e uma tendência forte ao coletivismo esmagador do potencial de cada um).
- Contudo, eu apóio a tolerância religiosa. Não é porque eu sou ateu que eu quero que todo mundo seja. Até prefiro que os ateus e agnósticos continuem sendo minoria. Afinal, a humanidade sempre seguirá o esquema dos 85% fracos, alienáveis e alienados e os 15% fortes, potentes e espíritos livres. Isso é irreversível. É burro quem acredita em completa igualdade social, em possibilidade de proletários no poder ou qualquer coisa que os socialistas digam. Eu até desconfio de Marx agiu como Maquiavel – ele escreveu com ironia, uma ideologia que pregava justamente o que NÃO deveria ser feito. É bonito defender os pobres e desamparados? É! Mas eles próprios não querem mudanças! Sejamos realistas!
- Não adianta nada você ser “virtuoso” se você não tiver caráter. É preferível ser impiedoso, arrogante e orgulhoso. O ser humano é mau por essência. E ele deve encarar isso, não pode se esconder dessa realidade. Eu não estou incitando a criminalidade, afinal ela é própria da nossa própria natureza. Não fico nem um pouco incomodado com a violência do cotidiano. Nós somos animais, oras! É a lei do mais forte! Ou você luta pela sua sobrevivência ou aceita ser vencido, ou até morto.
- Concluindo, descobri que adoro ir pra Igreja. Ver aquilo me dá inspiração para que eu libere a vontade de escrever, de criticar, de questionar. Filosofar, enfim. É a prova de que a ira move o ser humano. Amor e ódio são um só.

22 janeiro 2006

Episódio 12 - Discursos indiretos

Cena 1 (com Sérgio, Carla e Júlio)

Estamos em plena mid-season. Agora, os seis jovens estão se preparando para a volta às aulas. Talvez os momentos ociosos e, algumas vezes, até entediantes das férias serão substituídos pelo ritmo do terceiro ano. Aos 17 anos, eles terão que se preparar (ou não) para o vestibular.
E é justamente sobre o vestibular que esses três falaram durante uma conversa na casa de Sérgio. Este, aliás, disse que ainda está em dúvida entre Direito e Psicologia. Carla, apesar de seu ativismo político, quer fazer Engenharia, por ter afinidade com as ciências exatas. Já Júlio parece muito interessado no curso de Ciência Política. Ele, contudo, é o menos preocupado com o 3º ano, e garante que seu discman e seus livros de bolso terão mais utilidade que cadernos e listas de exercícios na sala de aula. Sérgio só quer tirar algumas dúvidas em conteúdos de Biologia, mas já se considera confiante quanto às outras matérias. Carla pretende se esforçar mais nas provas de Física e Gramática.

Cena 2 (com Bianca e Giovana)

As duas se encontraram na cafeteria naquele dia, e o principal 'assunto' da conversa foi o fato de que Giovana tinha uma queda por Júlio. Bianca percebeu que o jogo tinha invertido. Meses antes, o próprio Júlio esteve apaixonado por Bianca, mas não cultivou esse sentimento por muito tempo, por saber que sua personalidade e estilo de vida não eram muito compatíveis com os dela. Desde que decidiu a esquecer, voltou ao status de solteiro convicto e seu velho bordão, "Amor é para os fracos", voltou a ser utilizado.
Contudo, Bia não ficou realmente surpresa com o fato de sua amiga gostar de Júlio, afinal, Giovana sempre foi uma grande amiga para ele; em muitas festas, nos momentos de "isolamento social" dele, a garota sempre ia para lá conversar com ele. Eles também tinham semelhanças quanto ao gosto musical (Rock alternativo, shoegaze, clássicos...) e à posição política (libertários). Talvez um relacionamento não fosse impossível. Mas ela se lembrou de que Júlio era muito tímido, e que talvez ele ficasse com medo de que um namoro acabasse com a amizade de ambos. Giovana, sabendo disso, decidiu então esquecer por um tempo essa afinidade.

19 janeiro 2006

Episódio 11 - Quando você dorme

Cena 1 (com Bianca e Giovana)

Meia-noite de 4ª pra 5ª feira. Conversa no MSN. Bia começa.
- E não é que valeu a pena sacrificar o "Terra em transe" para assistir ao "Encontros e desencontros"?
- Claro. Foi uma ótima idéia. O Júlio também viu. Vou falar com ele, aproveitando que ele também está online.
- Beleza. Como eu sei que você não gosta de ter duas conversas ao mesmo tempo, vou dar uma olhada nos meus scraps no orkut enquanto isso.

Cena 2 (com Giovana e Júlio)

- Oi, Júlio. Online a essa hora?
- Sem ironias, ok? Esqueceu daquela vez em que teclamos das 3h até às 9h da manhã?
- Hehe, bem lembrado... e então, gostou do filme?
- Adorei.
- Eu sabia. Mas também, o Bob é igualzinho a você!
- Sim... introspectivo, tímido, não toma a iniciativa... como sempre, vi que existem mais pessoas parecidas comigo do que eu pensava.
- Hum. Mas eu achei o final meio decepcionante. Tudo conspirava para que ele ficasse junto com a Charlotte lá no Japão, mas ele é tão bunda-mole que prefere seguir em viagem e deixá-la. Que raiva!
- É compreensível. Ele não tinha coragem de ficar com ela, pois, por mais que a Charlotte gostasse dele e ele estivesse insatisfeito com a esposa e os filhos, ele não tinha forças para tomar essa decisão, justamente por sua personalidade.
- Pois é... mas e a trilha sonora, hein?
- Fantástica! Tocou "Just like honey", do Jesus and Mary Chain, "Goodbye" do Kevin Shields e, de quebra, a obra-prima do My Bloody Valentine, "Sometimes"!
- Mas colocar shoegaze na trilha deu certo, o filme tem um clima meio viajante mesmo...
A conversa seguiu por mais uma hora até os dois decidirem dormir. Mas algo incomodova Giovana. Ela perdeu o sono durante a madrugada, e leu um livro pra passar um tempo. Quando amanheceu, decidiu ligar para Bianca.

Cena 3 (com Carla e Edgar)

Enquanto ocorriam as conversas relatadas anteriormente, Carla e Edgar também estavam usando a internet.
- Ed, estou entediada. Está ocupada com alguma coisa no PC?
- Não, não, tudo bem, se você quiser conversar, estou disponível.
- Certo... pode me indicar algum site legal? Estou cansada de fóruns de política...
- Er... bem... você curte pornografia sueca?
- Hahahaha... você continua o mesmo tarado de sempre.
- Brincadeira... olha, se eu fosse você, leria alguns artigos sobre músicas ou cinema no Scream and Yell ou no Abacaxi Atômico. Adoro as resenhas deles.
- Beleza, valeu. (1 minuto depois) Ah, sim, quanto ao filme sueco... prefiro os pornôs brasileiros. =D
- Ahá! Além de safadinha, é uma nacionalista fajuta... hahaha.

Cena 4 (com Bianca e Giovana)

8 da manhã. Bianca estava escovando os dentes quando o celular tocou.
- Alô? Quem é?
- Oi, Bia, é a Giovana.
- Oi, Gi, como vai?
- Tudo bem... olha, preciso falar urgente com você. Vamos combinar de ir em algum lugar para conversarmos?
- Ok, ok... me encontre às 10h na cafeteria. Mas pode me antecipar o assunto?
- Tá... bem... eu acho que eu... gosto do Júlio.

18 janeiro 2006

Episódio 10 - Sound and Vision

Cena 1 (com Edgar e Sérgio)

Os dois resolveram se encontrar na cafeteria. Edgar puxa assunto.
- Você viu que absurdo o preço dos ingressos pro show do U2?
- Só mesmo um otário para gastar 200 pratas pra ver a apresentação deles... se ainda fossem aquela grande banda dos anos 80 e início dos 90, tudo bem. Mas se for pra aturar esse Bono metido a politizado e contra o sistema...
- Contra o sistema? Ele é o cara mais hipócrita que eu já vi. Defendeu ardorosamente o combate à fome e à pobreza no Live 8, junto do Geldof (que é outro picareta), e vem fazer show no Brasil cobrando esse absurdo...
- Calma, ele é como qualquer rico metido a filantrópico: luta intensamente contra a desigualdade social, obriga os governantes a perdoarem a dívida externa, faz o tipo messiânico. Mas quando o assunto é a grana dele, a conversa é outra.
- Acho que único motivo pra ver o show é o Franz Ferdinand abrindo... mas mesmo se eu quisesse, já é tarde demais. Existe gente estúpida o suficiente para esgotar os ingressos já no primeiro dia. Pro segundo show, assim que liberarem, vai ser a mesma coisa, com a mesma confusão - cambistas, malandrinhos usando gestantes e idosos para furar fila, empurra-empurra...
- Welcome to the machine, Ed.
- Ah, deixa pra lá. Além do mais, as aulas voltam semana que vem, e esse ano é preparação pro vestibular.
- Mas eu não vou deixar de ir nos shows só por causa desse maldito exame. 2006 promete vários festivais indies. A Shadowplay promete animar nossas vidinhas medíocres nesse ano...
- Que bom. A cena alternativa, com seus preços acessíveis e um público mais bacana, são melhores opções do que o mainstream que acha que 200 reais, no Brasil, é troco. Com essa grana, eu compro ingressos, comes e bebes para uns sete, oito festivais indies.
- E ainda sobra uma grana pra comprar EPs, CDs e camisetas de bandas, se brincar...

Cena 2 (com Giovana e Bianca)

- Amiga, finalmente as férias trouxeram bons filmes na TV a cabo - disse Bianca.
- Pois é, hoje eu assisti aquele filme do Coppola, o "Tucker - Um Homem e seu Sonho", na FOX. Adorei.
- É, já tinha assistido. Retrata muito bem o quanto o capitalismo monopolista esmagou o individualismo e os inventores nos EUA. O Tucker tem sua empresa fechada e quase vai parar na cadeia só porque fez um carro bom demais, e causou a fúria das grandes montadoras, que usam o Estado para fazer de tudo para acabar com o cara. Inclusive de assistencialismo: desocupar a pequena fábrica dele para construir casas populares.
- Pois é, Bia. Nisso eu até concordo com aquelas teorias libertárias malucas do Júlio. Não é o governo que garante o sustento, mas sim o próprio indivíduo. O papel do Estado é NÃO ATRAPALHAR.
- Exato. Contudo estamos presos pelo imobilismo conservador praticado tanto pela direita reacionária quanto pela esquerda que defende a estatização da economia e práticas populistas em prol do "bem-estar social".
- E isso inclui os impostos, que pra mim são na verdade um roubo feito pela própria União. E isso trava a economia, a liberdade do mercado é mínima.
- Sim... mas, tipo, não que eu não esteja à vontade de falar sobre política, mas vamos voltar a falar de cinema. Esse é um assunto que eu posso dizer que me garanto. =D
- Hehe, ok... ah, lembrei que queria te fazer uma pergunta. Às 22h vai passar "Encontros e Desencontros" no Telecine Cult.
- Giovana, não vá me dizer que você NUNCA assistiu a esse filme!
- É duro admitir, mas é verdade... enfim, o problema é que 35 minutos depois vai começar outro filme que eu estou louquinha pra ver, o "Terra em Transe", do Glauber Rocha, no Canal Brasil. Qual você acha que eu deva assistir?
- Pô, podia fazer uma pergunta mais fácil... adoro os dois. Tente zapear durante os intervalos. Mas eu, se fosse você, daria prioridade ao "Terra em Transe", pois ele não é tão fácil de achar nas locadoras...
- Hum. Valeu, Bianca. O que você vai fazer hoje à noite?
- O mesmo que você, ver TV. Talvez eu também assista a esses dois. Como minha TV fica no mesmo quarto do PC, podemos conversar no MSN comentando os filmes...
- Boa idéia. Te encontro na internet mais tarde, ok? Beijos.

15 janeiro 2006

Episódio 9 - I miss you, school!

Cena 1 (com Giovana, Edgar e Bianca)

Os três combinaram de se encontrar naquela tarde de domingo, na cafeteria. Durante o papo, surgiu um clima meio nostálgico...
- Jamais pensei que diria isso. - disse Edgar - Mas estou com saudades da escola.
- Poxa, eu também. - concordou Giovana - Por incrível que pareça, você fica sentindo falta daquilo. Apesar dos professores chatos, dos colegas de classe irritantes, das tarefas entediantes...
- E você, por ser boa aluna - disse Bianca - nem falou daquelas provas dificílimas, hein?
- Não seja hipócrita, Bia - respondeu Giovana - Você é extremamente inteligente, mas prefere conversar a aula inteira e ficar dormindo na aula do qu prestar atenção na aula e ir bem nas provas.
- Pois é - disse Edgar - O Sérgio e o Júlio, por exemplo, quase nunca estudam, só participam das aulas. E ainda assim sempre estão entre os primeiros da classe em notas.
- Ah, mas eu nem ligo pa isso - respondeu Bianca - No final desse ano, finalmente nós vamos nos livrar disso. Após o vestibular, adeus, matemática, física e química!
- Ainda bem. Se eu tiver que aguentar mais um ano de matérias cabulosas como físico-químia, geometria plana e eletromagnestimo, eu abandono a escola!
- Gostaria que uma vaga na universidade não dependesse de vestibular e dessas matérias odiosas - afirmou Giovana - Meu sonho seria ter aula de história antiga, geopolítica e filosofia o dia inteiro!
- Calma, que na faculdade seu sonho se concretizará. Falta pouco, minha cara, falta pouco...
- E no último dia de aula - brincou Edgar - , faremos um motim na escola e cantaremos "Another Brick In The Wall - Part 2"! Hahaha!

Cena 2 (com Sérgio e Carla)
- Carlinha, li na comunidade Humor Negro uma piadinha ótima. Quer ouvir?
- Hehe, claro. Adoro o Humor Negro.
- Ok... "Pai, o que eu vou ser quando crescer?"
"Nada, meu, filho, você tem câncer."
- Gostei. Aquela do parábens pro menininho com câncer tanbém é boa... "Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades, na na na na na na na!" =D

Episódio 8 - Dois lados

Cena 1 (com Sérgio e Carla)

- E então, cara, como foi a festa de aniversário da Mariana? Não pude ir porque precisei ir ao supermercado fazer as compras do mês com meus pais. Maldito capitalismo, aqueles preços estão exorbitantes! É a exploração do homem pelo homem!
- Bem, o que eu posso dizer! A festa foi maravilhosa! Encontrei vários amigos lá. Bati altos papos com eles, sobre tudo: como vai a vida, música, cinema, televisão... O Edgar, como sempre, exagerou na bebida, mas contou ótimas piadas quando ébrio. A Bianca estava com um vestido lindo, foi o destaque entre as garotas. Também conversei com a Giovana. Como sempre, parecemos dois intelectuais de botequim, debatendo Nietzsche e Freud. =D Mas foi isso. No geral, gostei muito. I love my brothers on the Saturday night!
- Que ótimo... e o Júlio, ele foi?
- Não. Disse que ia com a família no aniversário de um tio dele...
- Hum, vou teclar com ele e perguntar se a noite de sábado dele também foi boa. Espero que sim. Até mais.

Cena 2 (com Carla e Júlio)

Júlio estava quase desligando o PC, quando foi "bipado" no Messenger por Carla.
- A noite foi boa, Júlio?
- Pra ser sincero, péssima. Mais um dia para ser anti-social. Como eu já esperava outra festa patética, como todas as da minha família, tratei de levar meu discman e 2 CDs. Nas primeiras horas da festa, ouvi o do Joy Division, em que eu compilei o Closer e os singles de 1980. Sentei no sofá, tomei vários copos de Coca Cola e fiquei ouvindo, sem prestar muita atenção, quem estivesse disposto a falar comigo - primeiro, meu irmão caçula, depois uma prima minha que está fazendo Direito. Mas nem isso acabou com a minha tristeza. Eu me sentia um deslocado no meio daquelas pessoas.
- Por quê?
- Deve ser porque elas parecem tão... normais, felizes. Conversam sobre suas famílias, comentam a novela e o Big Brother, sempre bem humoradas, mas bebendo e rindo como porcos. Aliás, não comi nada. Estou com medo de pegar uma gastrite ou coisa pior, de tanta Coca que eu bebo. Quando acabou o CD do Joy, coloquei o do My Bloody Valentine. Shoegaze é perfeito para essas horas solitárias. Engraçado, as pessoas acham que eu faço de tudo para me isolar dos outros. Mas eu vejo isso como algo natural, que com o tempo eu comecei a adquirir esse comportamento. Sei lá, às vezes eu me sinto como um estranho no ninho, sabe?
A conversa durou mais algum tempo, até Júlio ficar com sono e decidir dormir. Naquela noite escura, estava ele, em sua cama, sozinho, olhando a lua pela janela. E pensando na vida.

13 janeiro 2006

Episódio 7 - Nothing else to do

Cena 1 (com Júlio, Giovana, Sérgio e Carla)

Reunião de sexta na casa da Giovana. Edgar e Bianca não foram, mas os outros entenderam, afinal, os dois pareciam querer ir além da atração física e ter realmente um namoro sério, mesmo que fidelidade não fosse uma qualidade que eles apreciassem.
Já eram 22h e eles buscavam fazer alguma coisa enquanto esperavam o início do Adult Swim no Cartoon Network. Giovana e Sérgio usavam a internet, e, como sempre, usavam a 'tríade sagrada' deles: orkut, MSN e eMule. Júlio ouvia Blur no aparelho de som e Carla assistia desenhos animados na TV (ela era uma fã enrustida de Bob Esponja e Arnold).
Ela resolveu puxar conversa com Júlio:
- Qual o desenho do Adult Swim que você mais gosta?
- Sem dúvidas, Space Ghost: Costa a Costa! Eu adoro as piadinhas dúbias do Space e as intervenções do Zorak. E você, qual o seu preferido?
- Hum, Laboratório Submarino 2021 e Harvey, o Advogado são os que mais me fazem rir.
- Harvey é genial, principalmente com as sátiras aos desenhos clássicos da Hanna Barbera. Imagina, Homem Pássaro como advogado, tendo como clientes gente como Fred Flintstone, Catatau e Dr. Quest, réus dos crimes mais imagináveis para esses personagens (Fred gângster, por exemplo).
- Quem diria, o Cartoon iconoclasta... mas acho que o Adult Swim é realmente uma ótima opção para quem quer algo que não seja aquela tonelada de desenhos próprios - a maioria, no máximo, mediana - do pessoal do CN: os animes do Toonami foram parar de madrugada! Como se Hi Hi Puffy Amy Yumi fosse melhor que o bom e velho Cavaleiros do Zodíaco... humpf.
- Saga de Hades, chegue logo ao Brasil...

Mais tarde, Giovana preparou pipoca e Sérgio trouxe a cerveja - e Coca Cola pro sóbrio do Júlio =) - e para que os quatro pudessem aproveitar a noite. Afinal, as férias já estavam acabando e eles mereceriam se divertir, oras.
No mais, nada de interessante no dia deles (a não ser muitas gargalhadas com as piadas de duplo sentido dos desenhos do AS). O mesmo com...

Cena 2 (com Edgar e Bianca)
... que fizeram o que os Rolling Stones chamam de "Let's spend the night together".

10 janeiro 2006

Episódio 6 - Eu gosto de iorgute

Cena 1 (com Sérgio e Júlio)

Conversa no MSN.
- Júlio, realmente o tal do orkut virou febre. Até meus ex-professores já fizeram!
- Putz, então realmente o negócio entrou em decadência... já achei um absurdo meu irmão de 11 anos fazer.
- Engraçado que quando você se cadastra naquela, hã... coisa, você promete pra si mesmo: "Não vou me viciar. Isso é só uma modinha, e, assim como todas, vai durar pouco". Passam-se os dias, e sua vida social vai sendo minada porque você não consegue largar o PC para usá-lo.
- Sim, eu sei, já passei por isso. Mas acredite, no orkut tem muita coisa legal. Apesar de ter sido contaminado por pessoas burras (o que já era de se esperar, já que é graças a elas que existem as modinhas e febres), a minoria com cérebro conseguiu torná-lo um reduto de discussões bacanas sobre música e política.
- Ah, você realmente pesquisou a fundo então, porque eu só vejo besteiras naquilo. Narcisismo, hipocrisia, egocentrismo, pessoas desesperadas por popularidade, imbecis que discutem por qualquer motivo... só estou naquilo porque tenho uma lista enorme de amigos que querem me adicionar. Já passei dos 900.
- É duro ser pop, hein? Eu tenho pouco mais de 100 e já estou mais do que satisfeito. Aliás, acho que vou até deletar os que não forem realmente amigos meus. Mas veja bem - dá pra dar uma boa extrapolada na hora de escrever o perfil. Todo mundo gostou do meu, apesar de achar muito longo. Dizem que eu praticamente fiz minha auto-biografia lá.
- É mesmo, não sei porque tanto detalhismo... no meu fala o essencial, tipo, meus gostos, minha personalidade, etc, e, claro, um pedido de "só adiciono se deixar scrap".
- Hahaha... ow, você entrou naquela comunidade do Pixies que eu te falei?
- Você e suas comunidades de música... acho que as sobre bandas de Rock que você curte representam uns 60% das que você está, certo?
- E como não? Se aqui na nossa cidade eu não encontro ninguém, nem mesmo no meio indie, que conheça as bandas 'obscuras' que eu gosto, certamente na internet haverá.
- Sim, além de você existem 2800 pessoas que curtem My Bloody Valentine. Eu gosto dessa banda, mas não está entre minhas preferidas. Mas ela combina contigo, Júlio. Shoegaze parece rock pra autistas. =D
- Mas, voltando ao assunto, orkut funciona mais ou menos assim: superficialmente, parece banal e viciante, mas nada mais do que isso - comunidades nonsense, barracos nos fóruns de discussão, pessoas que se acham o máximo, reduto de internautas bobocas. Mas quem for a fundo no negócio =D, vai encontrar pessoas inteligentes que precisavam de um espaço para conversar e se encontrar. Claro, só 1 em cada 15 usuários do orkut não sofre de acefalia e/ou pseudo-intelectualismo, mas é justamente com esses que eu me dou bem.
- Além disso, encontrei vários velhos amigos e parentes distantes naquilo. Pessoas que eu não via há tempos só estavam a um clique. Ou mesmo uma fuçada nos scraps alheios.
- E tem gente que reclama de ter sua intimidade revelada no orkut. Pô, isso, no mínimo, é contradição. Você entra numa comunidade online aonde não existe a palavra privacidade, e ainda reclama disso? Eu nem me incomodo se as pessoas lerem meus recados. Até porque só verão coisas do tipo "cara, você pode ser ateu, mas seu perfil é bacana" ou "gostei desse tal de Pavement".
- No meu, então, só coisas do tipo "Serjão! Add, please!".

Cena 2 (com Carla e Edgar)

- Carlinha, qual é a sua posição política lá no orkut?
- Que pergunta idiota, Ed! Extrema esquerda-liberal, oras!
- Ah, é mesmo, esqueci que você é canhota.
- Engraçadinho... a sua é qual mesmo?
- Depende.
- Depende o quê?
- Não, a visão política é Depende mesmo.
- Ah. Mas por quê?
- Eu não gosto muito de me identificar com ideologias. Parece sectarismo.
- Eu não vejo assim. Defender o socialismo é uma forma de libertação, já que você defende a igualdade social, a extensão da educação e da saúde para todos, e...
- Pare! Quando você começa com seu "papinho de comuna", você não cala a boca.
- Nossa, que falta de educação! Grosso! Intransigente!
- Calma, amiguinha. É que eu já estou estressado, todo dia meus pais me dão bronca.
- Não me diga que você esqueceu de novo de dar comida pro cachorro... hahahaha.
- Hein? Cachorro? Puta que pariu, espera aí no MSN que daqui a pouco eu volto! Vou aproveitar pra comer um bolo de chocolate!
- Hahahahaha... que panaca. Acho que ele daria uma ótima propaganda anti-drogas. "Antes de usar maconha, pense bem. Você realmente quer passar o resto da sua vida com amnésia, larica e vendo Scooby-Doo?"

Episódio 5 - Esses biscoitos me dão sede

Cena 1 (com Giovana e Bianca)

As duas estavam na lanchonete, aproveitando aquela calma 3ª feira para lanchar e começar a torcida pelo fim das férias. Conversavam sobre os mais diversos assuntos, a fim de achar algum que realmente interessasse falar sobre. Naquele momento, ambas comentavam os seriados da TV a cabo:
- Bia, parece que você só curte "teen dramas"... Smallville, The O.C., Dawson's Creek e, argh, Gilmore Girls! E comédias, não gosta?
- Tipo, desanimei de acompanhar sitcoms desde que Friends acabou... mas de vez em quando eu assisto Will and Grace - adoro o Jack e a Karen! =D - e That '70s Show. E você?
- Curto as comédias dos anos 90... Married with Children é muito sarcástica; Mad About You consegue falar de uma maneira interessante sobre casamento e ter cenas nonsense ao mesmo tempo; e, claro, a minha favorita (e a do Ed e do Júlio também), Seinfeld!

- É, bem lembrado... também curto Seinfeld. É um humor bem cínico, com críticas hilárias e constantes à sociedade americana. A Carla que não gosta muito... diz que é um "programa conservador, moralista e mentiroso".
- Ah, não liga pra ela... comunistas são chatinhos mesmo. Até porque Seinfeld é realmente de direita, e não tem nenhuma vergonha de admitir isso. E é justamente nisso nele que é fascinante: mesmo defendendo o status quo, ele o satiriza sem dó (não te lembra South Park?). Os próprios protagonistas são propositalmente estereotipados. Kramer é fruto de uma visão simplista das pessoas excêntricas, por ser um vizinho irritante e folgado que vive de bicos e biscates. Elaine é a mulher neurótica e incômoda. George é o balzaquiano fracassado e mentiroso. E Jerry, oras, é o "homem moderno" - metrossexual, metido a engraçado e arrogante.
- Hum, também percebi isso. Aliás, a série é escancaradamente preconceituosa. Todos os "anormais" e "fora do padrão" do american way of life viram caricaturas: o nazista da sopa, o menino da bolha, o carteiro gordo e vingativo, o advogado negro e oportunista...
- Pois é justamente por ter essa visão tão, digamos, distorcida e egocêntrica da vida, que Seinfeld é tão divertido. A direita, em sua auto-crítica, surpreendentemente sai-se muito melhor que a esquerda e sua "metralhadora giratória".
- Outra coisa que eu notei é que ela revolucionou o jeito de fazer humor nos seriados, já que inventou a "comédia de situação". Em cada episódio, é retratado um 'conflito', uma situação supostamente banal do cotidiano, mas que é analisada de uma maneira peculiar - como no episódio em tempo real que eles esperam 20 minutos para conseguir uma mesa em um restaurante. O que teoricamente seria bobo e cansativo torna-se muito criativo e divertido. A despretensão das conversas deles no apê do Jerry ou na cafeteria é que povoam a grande maioria dos episódios - até Friends foi influenciado por isso, oras.
- Sim. E no final de cada episódio, aparece o Seinfeld durante um dos seus shows de 'standing comedy', comentando um assunto relativo ao trabalhado no capítulo da série.
- E sempre com reflexões geniais, tipo aquela: "Por que o jornal de domingo é o maior? Pô, é o único dia da semana que a gente tem pra relaxar, e eles vêm com 200 páginas a mais sobre coisas que nós nem imaginávamos que existem, um monte de cultura inútil!"
- Hehe... naquele episódio em que eles não conseguiam achar o carro no estacionamento também houve uma boa conclusão. Aliás, Bia, vamos fazer como a turma do Seinfeld, e contarmos as nossas vidas como se fôssemos parte de uma sitcom?
- Sei não. Acho que nós seis e nossa rotina combinaríamos mais com um seriado num blog vagabundo, regido por um narrador egomaníaco que só escreve roteiros auto-indulgentes e pretensiosamente cults... será?

Cena 2 (com Edgar e seu pai)
- Filho, apaga a luz da garagem?
- Hã? Ah, ok.
- ... Edgar, você apagou a luz da sala! Seu sonso!
- O quê? Foi mal! Desculpa, estava distraído...
- Humpf... jovens maconheiros. Preferiria que você fosse normal e preferisse cerveja e putaria na sexta-feira.

04 janeiro 2006

Episódio 4 - Conversas, e suas revelações

Cena 1 (com Edgar, Sérgio e Giovana)

Mais ou menos às três da tarde do dia seguinte, eles se encontraram no shopping e começaram a bater um papo "sobre a vida". Freud explica? Não, mas Seinfeld sim.
- A Bianca ainda está dormindo, Edgar? - disse Giovana.
- Sim... praticamente desmaiou quando chegou em casa. Fiquei até com pena dela.
- Oh, que gracinha! - ironizou Sérgio - Contou historinha pra ela nanar?
- Vai se foder, Sérgio! Não posso ser romântico? Meu estereótipo de adolescente que só pensa em sexo é tão forte assim?
- Calma, Ed - disse Giovana. - Não fique nervoso. Eu acho até bonitinho isso... me deu uma esperança em relação ao sexo masculino.
- Por que, você iria virar feminista? - rebateu Edgar.
- Que é isso, acordou com uma ressaca daquelas, hein? Não, estou falando que é difícil encontrar homens que tratem a mulher de igual para igual. Estou cansado de caras misóginos, que acham que a mulher é apenas um animal doméstico, e só vêem nela utilidades servis, como parceira sexual e responsável pela educação dos filhos e pela organização da casa. Não vejo nisso nenhum avanço em relação ao século 19.
- Concordo. - opinou Sérgio - Pelo contrário, com a liberdade sexual, a mulher foi ainda mais "coisificada", em propagandas de cerveja, em novelas, em filmes pornô e até em programas infantis, como uma mera dançarina erótica que "interage" com as crianças.
- Isso, Sérgio. A desumanização da mulher! Pô, somos muito mais do que gostosas peitudas e prestadoras de serviços horizontais! E nós indie girls, somos vistas apenas como "putas metidas a intelectualóides"! Isso quando não nos rotulam de "lésbicas mal comidas que se acham espertas". É um absurdo!
- No fundo, eu acho que isso é conseqüência de um grande medo que o homem tem da mulher. Ele sabe da grande força dela, da liderança e determinação que elas podem demonstrar quando necessário. E o homem não quis colocar sua razão e objetividade como questionáveis pela emoção e a subjetividade do sexo feminino, e por isso faz de tudo para oprimí-las, de qualquer maneira.
- Putz - disse Ed. - Está parecendo um psicanalista, Serjão! Daqui a pouco está falando de complexo de Édipo, hehe...
- E por que não? Talvez a própria educação da mãe influencie na personalidade do filho. Homens machistas são assim porque, muito provavelmente, suas mães se submeteram a eles, mimando-os excessivamente, criando neles uma imagem de desprezo e arrogância em relação às mulheres. O ódio que eles têm de suas mães se reflete nisso.
- Exato - disse Giovana. - Agora, com pais mais liberais, talvez o garoto entenda melhor a mulher. Sem querer puxar o saco, mas os pais do Sérgio são um bom exemplo, e hoje ele é esse cara adorável. =) A educação que a criança recebe na sua infância é muito importante na formação da personalidade dela. Eu mesmo sinto que o fato de meus pais terem se divorcido quando eu só tinha 7 anos fez com que eu acabasse encontrando nos amigos uma... válvula de escape para me consolar dessa desunião dos dois. E hoje os dois, mesmo já estando com novas famílias e consolidados, sentem que eu sempre valorizei mais a vida social do que a familiar por causa disso.
- Hum... olha só - interrempou Edgar, obviamente querendo encerrar a discussão - Enquanto conversávamos devoramos todo esse lanche! Caramba, vou lanchar mais vezes com vocês!

Os outros dois riram. E como se toda aquela discussão "filosófica" não tivesse ocorrido, eles começaram a contar anedotas, e se divertiram um pouco para se descontraírem, esquecendo dos problemas da vida.
Mas parece que não foi a mesma coisa que os outros dois do fab-six estavam fazendo...

Cena 2 (com Júlio e Carla)

Nesse mesmo momento, Júlio e Carla conversavam no MSN.
- Júlio, você sabe o que é se sentir sozinho?
- Que pergunta óbvia. Eu faço isso o tempo inteiro.
- Tudo bem, mas você se orgulha disso?
- E por que não deveria? Eu me sinto feliz quando estou apenas comigo mesmo.
- Será? Bem, eu também comecei a me sentir sozinha nos últimos dias. Parece que eu sinto um vazio...
- Hum, entendo. Eu também sinto isso, mas...
- Tem medo de demonstrar isso às outras pessoas, não é? É por isso que você é tão anti-social?
- Bem... hã... sim.
- Eis o verdadeiro Júlio se revelando. Engraçado que ainda assim você é tão sincero...
- Sinceridade não quer dizer necessariamente que eu esteja falando aquilo conscientemente.
- Sim, me lembro da época em que você gostava secretamente da Bianca, e escreveu textos românticos nunca entregues a ela.
- Que droga, gostaria de ser menos explícito sobre meus sentimentos!
- Sinto muito, cara, mas discrição e sutileza são características que você jamais teve.
- Eu sou tão amargo, me sinto mal por isso. Mas não faço nada para mudar.
- Não seria você um egocêntrico?
- Mas é claro que sim! Eu só penso em mim mesmo, me vejo como o centro das atenções. E não por ser extrovertido e comunicativo, como as outras pessoas, mas justamente por ser tímido e frio.
- Isso pode ser perigoso para você. Lembre-se de quatro meses atrás... você teve sérios problemas.
- Nem me fale daquela época... você sabe bem o quanto eu chorei.
- Mas você realmente não se incomoda dos outros saberem da sua vida? Eu sempre me incomodo quando ficam sabendo coisas de mim...
- Sei lá,. talvez eu despreze tanto a humanidade que criei uma bolha social. E se os outros conseguem estourá-la, eu continuo o mesmo, encolhido, fingindo que nada aconteceu.
- Você se sente com depressão ou outro problema?
- Não, é justamente aí que pega! Eu sempre coloco na minha cabeça que isso é apenas coisa da adolescência, essas dúvidas, e problemas emocionais... mas estou começando a mudar de idéia.
- Pô, acho isso tão estranho... você, na escola, também age como uma espécie de autista. Senta no canto, pega várias cadeiras para colocar seus pés e seus pertences, e coloca o discman ou lê um livro, como se nem ligasse para o resto do mundo.
- As pessoas notam isso? Pô, achei que ninguém prestasse atenção nisso.
- Não se faça de ingênuo, Júlio. Você sabe que é especial para os seus amigos. Quando você quer é uma pessoa maravilhosa. Mas parece que ignora isso, quer criar pra si mesmo uma imagem falsa, a de um eremita que não fala com ninguém... bem, acho que já falamos o suficiente sobre você, talvez um psicólogo o faça melhor do que eu. Agora vamos resolver os meus problemas. =D

E assim se fez. Júlio, por incrível que pareça, conseguiu dar bons conselhos pra Carla, e a deixou menos triste pelo fim do namoro. Ela adorou aquela conversa, e percebeu a característica mais marcante de seu amigo - ele era carente, só queria alguém para lhe dar atenção, o escutar. E logo depois disso, ele sempre se sentia melhor, e retribuía o favor ajudando seus amigos. Talvez ele fosse muito mais do que o garoto mau-educado e anti-social que aparentava ser aos pré-conceitos de pessoas que não o conheciam bem.

03 janeiro 2006

Episódio 3 - Dancing days are here again

Cena 1 (com todos)

Quando chegaram lá, cumprimentaram todo mundo e cada um foi pro seu canto. Alice e Tómas eram dois amigos que Sérgio havia convidado. Aliás, este sempre fora um dos mais populares da turma, tinha um poder de sociabilização enorme. Carismático e bem-humorado, dava atenção para todos que falavam com ele. Se Júlio era o sabe-tudo da turma sobre música e política, ele era o expert em cinema (ao lado da Bia), literatura e boates e festas para ir à noite. Ele estava sentado na mesa com alguns ex-colegas do 2º ano de 2005.
Edgar era o porra-louca, mas naquela noite decidiu ficar "só" no uísque, sabendo dos problemas que já causara em outras oportunidades por ter exagerado nas drogas. Nesse momento, ele estava na parede, conversando com Bianca, que acabou exagerando na vodka com limão. Ambos estavam meio atordoados, e riam sem motivo. Mas se arriscavam uma vez ou outra a dançar. Nessa hora, estava tocando "The Dark of the Matinée", do Franz Ferdinand. Giovana e Carla estavam na pista, e não estavam sozinhas - até que um bom número de pessoas fora à Shadowplay naquela noite.

Cena 2 (com Júlio e Giovana)

Júlio discotecava, mas pouco saía do seu lugar, até porque trouxera três latinhas de Coca Cola e um suprimento de salgados e chocolate para aguentar a noite inteira.
Giovana foi puxar conversa com ele, tentando evitar que ele passasse mais uma noite solitário:
- E então, cara? Está gostando da festa?
- Sim, claro! Por enquanto só estou tocando um Rock mais contemporâneo, mas daqui a pouco, quando eu terminar de tocar Interpol, vou ir direto pro positive punk!
- Beleza... ow, porque você está aí sozinho, sem falar com ninguém?
- Ah, não gosto muito de dançar. No máximo, arrisco imitar o Ian Curtis quando estou ouvindo música lá no meu apê. =D
- Engraçadinho... vem dançar com a gente, detesto ver você isolado das pessoas.
- Beleza. Deixa eu colocar então aqui uma programação pros próximos 20 minutos, pra encerrar o New Indie... (segundos depois)... pronto.
- OK, quando for a hora do pós-punk você volta lá.
- Certo. A propósito, é muito bom ver a casa cheia. Pena que isso aumenta a chance de alguém exagerar na bebida e atrapalhar tudo.
- Pô, que pessimismo! Relaxa, o Ed, a Bia e o resto dos junkies estão ali na parede. Daqui a pouco vão entrar na fase "carente". Sabe aqueles pufs ali? Provavelmente serão ocupados daqui a pouco.
- Que povo libidinoso... mas deixa, pelo menos eles estão curtindo à vida. Às vezes eu até acho que o hedonismo deles é válido. "We want the world!
- ... And we want it now!" Isso aí, Morrison disse tudo em "When The Music Is Over"! =D Mas agora vamos conversar menos e dançar mais. Quero só ver se você é realmente um pé-de-valsa...

A festa rolou sem maiores problemas, ao contrário do que temia Júlio. O auge foi quando tocou “Blue Monday”, do New Order, e todos os presentes estavam na pista – mas no geral, quem estava lá dançou bastante. Acabou por volta das 4h. Todos já tinham ido embora, menos Carla e Sérgio, que resolveram conversar um pouco.

Cena 3 (com Carla e Sérgio)

- A noite foi boa, Carla?
- É, mais ou menos...
- Ainda está meio triste por ter terminado o namoro com o Luciano?
- Sim... acho que é por isso que eu me diverti hoje, mas bem menos do que o normal...
- Pois é. Mas não fica assim não. Pô, você tem 16 anos e 10 meses, não pode sofrer por um amor tão jovem. Claro que depois de oito meses de namoro é foda terminar.
- Eu acho que deveria ser que nem você, e me concentrar mais em amizades.
- Hum. Mas acho que é porque eu sempre fui assim, mas isso não interfere na minha vida amorosa.
- Eu já sou o contrário, sempre priorizo o íntimo em detrimento do coletivo.
- Sim, percebi isso. Você se afastou um pouco de nós na época em que o namoro estava mais intenso.
- Sei lá, acho que eu preciso mudar de atitude. Me dediquei demais, esperando que ele fosse realmente especial. Mas caí do cavalo. Terminei com ele porque já não sentia mais nada por ele.
- Carlinha, tente esquecer isso. Como eu já disse, a vida ainda não acabou. Pô, lembre-se que nesse ano faremos o terceirão, talvez em meio à preparação para o vestibular você encontre um cara legal.
- É, talvez... mas você percebeu que 4 de nós 6 estamos solteiros? Você, o Júlio, a Giovana e agora eu. Isso está parecendo Seinfeld...
- Isso... hehe. Mas será que o namoro do Edgar com a Bianca vai pra frente?
- Do jeito que a tensão sexual deles é alta, garanto que por um bom tempo eles continuarão juntos. E também porque eles dão certo, é até uma troca de conhecimento: ela indica filmes cult para ele, e o Ed a ajuda quanto à informática..
- Pois é. Ele pode dizer que só vai em sites pornográficos, mas é só conversa - ele sabe muito mesmo sobre computadores – é uma das poucas pessoas que eu conheço que sabe usar Linux e conseguir senhas de sites pagos.
- Ah, mas você sabe a finalidade dele em conseguir essas senhas...
- Hahaha, é mesmo... mas, mesmo assim, ele sempre é útil quando o assunto é Internet.
- OK... já estou com sono. Acho que vou dormir.
- Beleza. Ainda bem que eu só vou ter que dar carona para você, os outros já foram embora. Como o Toni veio na caminhonete dele, levou logo uns seis. O Júlio e a Giovana foram de táxi, o Edgar e a Bianca foram com a mãe dele, e o resto do pessoal, eu não sei.
- É... o meu apartamento é daqui a quatro quarteirões. Meus pais já devem estar dormindo... mas não vão se incomodar. Então, pé na tábua, Sérgio!
- Como diria o Mario Bros, Here we go!

(CONTINUA...)

02 janeiro 2006

Episódio 2 - Vida de cão

AVISO: ESSE EPISÓDIO CONTÉM REVELAÇÕES SOBRE O ENREDO DO FILME "DOGVILLE".

CENA 1 (com Júlio e Bianca)

Segunda-feira, 10h. Enquanto fazem os preparativos da festa na Shadowplay, local da cidade aonde ocorriam eventos alternativos, desde shows de Rock a debates sobre livros, Bianca chega e encontra Júlio lá. Ele estava ajudando a organizar a discoteca.
- E aí, Júlio. Chegou cedo, hein?
- Digamos que sim. Decidi me antecipar e já iniciar os preparativos. Mudando de assunto, o Ed me disse que vocês iam ver um filme ontem. Foi o King Kong mesmo?
- Não. A sessão estava muito lotada. Além disso, eu já tinha visto no dia da estréia. Só iria na segunda vez por motivos de ordem "física", entende? E em cinema lotado, não rola. Então, eu e ele fomos na locadora. Assisti pela 3ª vez o "Dogville"! Já viu?
- Claro, adoro aquele filme. É quase indescritível o que eu senti ao vê-lo.
- Deixa eu adivinhar... você torceu pela morte deles no final?
- Óbvio! Você sabe que eu adoro ver personagens desprezíveis morrendo em filmes! Foi por isso que eu curti "Elephant". Pode até ser um prazer mórbido, mas aqueles habitantes do vilarejo mereciam aquilo.
- Também apoiei a decisão da Grace em pedir pro pai dela, o chefe dos gângsteres, autorizar o extermínio deles. Pô, ela sofreu o filme inteiro nas mãos daqueles desgraçados. Principalmente o Tom, culpado por tudo.
- Ele era um canalha. Na última chance que tinha para dissuadir a Grace da decisão dela, ficou falando daquela filosofia imbecil dele, de que o fato de ter se aproveitado dela não foi nada mais do que um "exemplo", e que seria material para o livro dele.
- Mas é assim mesmo. Acho que ele é uma metáfora para pseudo-intelectuais desumanizados. E a Vera?
- Representava as mães que mimam excessivamente os filhos, criando verdadeiros ditadores mirins e egoístas; e que toleram a infidelidade do próprio marido, e até os defendem das mulheres que são abusadas por eles.
- Nem me fale no marido dela... que porco chauvinista! Ele tratava a Grace como uma mera prostituta.
- Não só ele. Todos os homens de lá, exceto o Tom, transaram à força com ela. Isso sem contar os trabalhos compulsórios que impunham a ela, e até o absurdo de prenderem ela com uma coleira acorrentada a uma roda pesada. Como se ela fosse um animal! Como o ser humano pode ser tão mau e cruel?
- Pense bem, Júlio. Eles se sentiram sem escolha. A Grace, ao chegar lá como uma fugitiva, acabou com toda a tranqüilidade de Dogville. A polícia nunca tinha ido lá antes.
- Eu tenho uma tese para isso. O ser humano, quando perde a sensação de segurança, desperta sua face mais maléfica, um lado que ele mesmo não imaginava que tinha. Os homens são maus e sujos por essência. Foda-se Rousseau e os otários que acreditam que é a sociedade que o corrompe.
- Falou e disse. Já vi tantas perversidades que perdi minha confiança nos seres humanos. Nas cidades grandes, se vê um grande individualismo, aquela sensação de que "já que sou apenas mais um na multidão, não ligo para as outras pessoas, me importo apenas comigo". Uma vida de cão, é cada um por si.
- E nas cidades pequenas e isoladas como Dogville, é diferente, o que prevalece é um senso de coletividade excessivo, que os leva a essa "Atrocity Exhibition" (eu bem que te disse que Joy Division explica muita coisa =D). Se algum estranho entra na comunidade, há um senso de união, de "temos que manter a ordem"> Nisso, os habitantes da vila representada no filme, em vez de rejeitarem a Grace, supostamente demostraram bondade ao aceitá-la. Mas tinham segundas intenções.
- Exatamente! NOssa, eu compreendi justamente isso no filme! E no final, ela, após aguentar todo aquele sofrimento praticamente calada (e quando resolveu ser sincera, esbarrou na hipocrisia dos moradores de Dogville), finalmente toma uma atitude, e deixa de lado o que, segundo o pai dela, seria uma grande arrogância da parte dela: ser falsamente condescendente.
- Igual ao cristianismo, minha cara. As pessoas são domadas, adestradas. Em nome de uma ética maior, de uma moral regida pelo metafísico, se sujeitam a tudo. É por isso que eu sou ateu. Nietzsche explica muito bem o que eu sempre senti sobre os cristãos - eles estão errados em acreditarem que a fé move montanhas, que ser humilde é uma virtude. A virtude vem da vontade de potência, e não da fraqueza, da submissão!
- Você leu isso em "O Anticristo", não é? Me lembro bem desse trecho... ah, ainda sobre o filme, a Grace resumiu em uma frase toda a raiva interna dela, que foi simbolizada pelo ato de ela matar o Tom com as próprias mãos, em vez dos gângsteres fazerem o serviço. "Existem coisas que nós devemos fazer pessoalmente."
- Nossa, na hora em que ela falou isso eu até bati palmas!
- Hahahaha... você é incorrigível. Putz, estamos conversando há horas e não fizemos nada! Não se esqueça de que você vai ser o DJ da festa hoje!
- Eu sei. Vou organizar as mesas, então. Me ajuda com aquela ali. Mas vamos continuar conversando, detesto trabalhar em silêncio.
- Hehe, ok. Você viu que louco, no Dogville não haviam cenários! Só fizeram riscos no chão para representar as casas, o jardim, até o cachorro...

CENA 2 (com Sérgio e Giovana)

Enquanto rolava essa conversa entre Bia e Júlio, a Giovana e o Sérgio estavam combinando pelo telefone que horas ele iria buscá-la. Ele era o único da turma que tinha carro, e ficou de ser o "caroneiro". Eles aproveitaram e discutiram um pouco sobre música. Ela gostaria de saber quais bandas Júlio pretendia tocar na sua discotecagem.
- Rock alternativo em geral - disse Sérgio - O pós-punk de Joy Division, Smiths, New Order e The Cure, o shoegaze do My Bloody Valentine, o new indie rock de Franz Ferdinand, Interpol, Killers e White Stripes, e por aí vai. Talvez role até Beatles, Nirvana ou Pixies.
- Ótimo ainda bem que existe o Júlio. Estava cansado de ouvir gay music e eletrônico das discotecagens dos outros caras.
- Ah, vai me dizer que não curte Placebo, Scissor Sisters, Pet Shop Boys, Village People? =D
- Gosto, sim, mas toda vez toca isso! Cansei! Pô, ser indie não significa que, necessariamente, eu seja bissexual ou gay!
- Calma, vai ter muito hetero lá, não se preocupe... um dia você encontrará o "alterna da sua vida"... vou desligar, um abraço. E até lá.
Horas depois, mais exatamente às 20h, Sérgio buzinou na frente da casa dela. No carro, ela teve de se espremer, já que Alice, Tomás, Carla e Edgar também eram '"caronistas". Minutos depois eles chegaram à Shadowplay.

(CONTINUA NO PRÓXIMO EPISÓDIO)

01 janeiro 2006

Episódio 1 - Conversas no MSN

(Personagens: Júlio e Edgar)
- Oi, Júlio. Tudo bem?
- Olá, Edgar. A vida continua um tédio para mim, como sempre. E você?
- Tudo ótimo. E então, o que tem feito de útil?
- Se passar o dia na frente do computador for útil...
- Depende. O que você anda fazendo no PC?
- Baixando músicas, postando em comunidades de Indie Rock no orkut, atualizando meu blog, lendo crônicas sobre política...
- Pô, isso é até útil. Comparado a mim pelo menos... sites pornô de todos os tipos, e 80% dos meus contatos no MSN são vadias ninfomaníacas...
- Também não reclamaria se fosse você. Ao menos você ainda tem libido.
- Por que, por acaso você seria um assexuado?
- Não, apenas um romântico fracassado e cético.
- Ué, pensei que você ainda estivesse atrás de alguma garota que combinasse com você.
- Não mesmo. Cansei de desilusões. Amor sempre foi meu ponto fraco, e eu não ligo para isso.
- Pô cara, você mal completou 17 anos e já desistiu de tentar encontrar o amor da sua vida?
- Sejamos realistas, Edgar. Eu vou ficar pra tio, sozinho na vida. "Isolation".
- Hum... citando JD... você ouve Joy Division porque é solitário, ou é solitário porque ouve Joy Division?
- Nenhuma das alternativas anteriores. Gosto deles porque são uma banda fantástica, com uma sonoridade inovadora e inesquecível.
- Belo discurso. Mas ainda prefiro a insanidade dos Pixies =) ... opa, vou ter que sair agora, a Bia quer ir ao cinema hoje.
- Hum, vai lá com sua namoradinha cinéfila. Ela vai te levar pra ver outro filme cult?
- Hoje não. Ela decidiu ser normal e assistir algum filme "mainstream". Estava pensando em King Kong, mas parece que Os Produtores ficou muito bom. Pretende vê-lo?
- Como se eu tivesse dinheiro e paciência para ir ao cinema...
- Você continua o mesmo chato de sempre mesmo, tsc tsc. Bem, até mais.
- Te cuida, cara. E se for transar no cinema, nem que seja blowjob, use camisinha. Já basta a África de aidéticos...

(Personagens: Bianca e Carla)
- Oi, Bia. Como vai?
- Tudo bem, e você?
- Também. Você sabe se nesses próximos dias haverá alguma festa?
- Acho que amanhã a galerinha indie vai fazer uma reunião. Você sabe, querem ser do contra até no dia de comemorar o Ano Novo...
- Concordo. Mas não deixa de ser uma boa idéia. Afinal, dia 2 é o Dia Nacional da Ressaca. Enquanto os "normais" estiverem com enxaqueca e pagando dívidas, nós iremos nos divertir.
- Isso mesmo. Acho que eu vou.
- Eu também. Toda a galera foi convidada?
- Sim, acho que quase todos irão, já que quase ninguém da nossa turma viajou...
- Bando de anti-sociais, ficam presos nessa maldita cidade.
- Hum, falando em festa como foi o seu 1º de Janeiro?
- Ah, resolvi ficar com a família. Dessa vez, minha mãe não chamou nenhum parente mala, e a "celebração" foi até calminha.
- Fez alguma coisa na tal da meia-noite?
- Ouvi This Charming Man no volume máximo. Iniciar o ano com Smiths deu certo ano passado. Assim como comer sete uvas.
- Ai, ai, você acredita nessas superstições?
- E por que não? Às vezes é legal ser idiota como as pessoas normais.
- Hehe, é de vez em quando sim. Só tome cuidado, burrice é contagiosa. Qualquer dia desse você pode se pegar ouvindo Simple Plan ou Ivete Sangalo...
- Eca! É melhor ficar mesmo só no Reveillón então... hehehe.
- Ok então... ow, agora eu vou no cinema com o Ed.
- Cool... qual filme vocês assistirão?
- Ah, hoje estou pouco a fim de ver filmes europeus... acho que um pouco do Hollywood não faz mal.
- Que irônico hein, amiga? Agorinha você me acusando de virar uma pessoa comum, e agora se rendendo ao imperialismo ianque?
- Não me venha com suas pregações comunistas. Não vejo nenhum problema em ver filmes americanos. Não vou ficar discutindo com você. Fui!
- Beleza. Até mais, sra. contradição!

Consternações, minha nova série

Enquanto a Indie Youth continua engavetada, vou criar um blog só para a minha nova série.
Como não quero ocupar o Racio Símio com "historinhas", esse será o blog pro Consternações.
Espero fazer já hoje o primeiro episódio.